L 1 Is 50, 4-7; Sl 21 (22), 8-9. 17-18a. 19-20. 23-24
L 2 Flp 2, 6-11
Ev Mc 14, 1 – 15, 47 ou Mc 15, 1-39
A liturgia deste domingo apresenta-nos dois factos aparentemente contraditórios, a entrada triunfante em Jerusalém e a paixão e morte de Jesus, que só podem ser entendidas à luz da fé. Marcos faz um caminho de descoberta de Jesus, da sua identidade.
A multidão aclama-O: “Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, o reino do nosso pai David! Hossana nas alturas!” Aclamação que, no entanto, se confunde com a ideia de um Messias temporal. No entanto, sentado sobre o jumento da paz, Jesus é um rei diferente, manso e humilde, que vem em nome do Senhor. O seu triunfo será real, o do amor, mas não à maneira política de um messias falsamente imaginado e desejado. Ainda hoje, a Igreja aclama-O e anuncia-O, mas tem de o fazer, passando pela cruz, pela kénose, “Ele que não se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a si próprio”, como nos descreve a Carta aos Filipenses.
Todos os Evangelistas nos relatam a Paixão e Morte do Senhor detalhadamente. Dedicam a isso uma terça parte dos Evangelhos. É a mais importante! No entanto, cada qual deixa as suas próprias pinceladas. Podemos distinguir algumas no Evangelho segundo S. Marcos.
No Jardim das Oliveiras, o Evangelista coloca na boca de Jesus o termo Abbá, única vez em todos os Evangelhos, depois de ter pedido ao Pai para o poupar a uma prova tão difícil. Jesus abandona-Se confiadamente nas Suas mãos. Um amor pleno e total!
Perante o beijo de Judas, Jesus não reage, aceita o que lhe vai acontecer. Judas trai-o, tem outras intenções, é dos seus amigos e no entanto não está interessado no projeto de amor, mas nos seus interesses, no seu egoísmo. Os discípulos fogem todos. Pedro nega-O descaradamente. No momento em que os discípulos se dão conta de que a meta é a doação de vida, abandonam tudo, não para o seguir, mas para fugir. Com que discípulos nos identificamos neste relato? Quantas vezes abandonamos o seu seguimento!
No momento da paixão, o Jesus descrito por Marcos está só. Nenhum outro evangelista acentua tanto esta solidão. É abandonado pelos discípulos, é traído pela multidão, zombam dele, é flagelado e humilhado pelos soldados, é insultado pelos que passam e pelos chefes do povo. Só no final aparecem algumas mulheres ao longe. Jesus sofre veemente este abandono de todos, até do Pai. Esse é também o drama de tantos irmãos que sofrem em absoluta solidão, mesmo depois de terem feito o bem a tantos outros.
Marcos apresenta-nos um Jesus muito humano, que perante a eminência da morte, começou a sentir grande angústia e medo. Ele faz-se um de nós. Como nós faz a experiência de como é difícil ser obediente ao Pai.
A narração apresenta-nos igualmente um Jesus sempre em silêncio. Responde simplesmente a Pilatos que é o Messias. É um silêncio que é força da alma, não fraqueza. Tem a força de se calar, não tem medo da derrota.
O ponto mais alto da descoberta da identidade de Jesus é realizado pelo centurião romano: “Realmente este homem era o Filho de Deus”. É o caminho do próprio Evangelho, que começa assim “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Por diversas vezes confundem-no e afirmam, mas Jesus vai mandando calar até este momento mais alto. É na cruz que Ele finalmente Se revela. É um pagão que O descobre realmente.! Nem sequer os discípulos fizeram este caminho. A descoberta da identidade de Cristo acontece na doação de vida. É então que o véu do templo se rompe em dois, de alto a baixo. Quebra-se a distância entre Deus e os homens. O nosso Deus é Jesus na cruz!
Ao lermos e meditarmos neste manancial infindável do seu amor, meditemos em cada gesto, identificando-nos com cada personagem. Que esta Semana Maior da nossa fé seja vivida com autenticidade e intensidade!
Perante este relato, fica a pergunta perene e essencial: “Quem é Jesus para ti?”