Imaculada Conceição da Virgem Maria no Santuário Diocesano em Angra (2022)

A solenidade da Imaculada Conceição da Virgem santa Maria
celebra a digna morada que Deus preparou para o seu Filho, em
atenção aos méritos futuros da morte de Cristo, como foi definido
solenemente como verdade recebida por antiga tradição, atestada
liturgicamente desde o século XI e que chegou aos Açores no século
XV.
Hoje alegramo-nos com razão devido ao modo como Deus atuou
com a jovem Maria, enchendo-a da sua graça e preparando-a para
ser a Mãe do Messias. Mas o feriado nacional, por ser o dia da
padroeira e rainha de Portugal não é para ficarmos numa figura do
passado ou numa epopeia da história coletiva. Somos convidados
ademais a tirar uma consequência pessoal deste mistério para o
nosso tempo.
O que a Palavra de Deus nos diz hoje – o que Maria ouviu e nós
também – não se esgota nela, mas pede a cada peregrino, que
tomou a decisão daqui estar, uma vida sã, «uma vida santa,
irrepreensível em caridade na sua presença», vida própria de filhos
e herdeiros.
Esta festa interpela-nos para que também nós, desde a nossa
própria vida, saibamos apreciar e imitar a resposta de Maria. Se a
festa do dia 8 de dezembro é a festa do sim de Deus e do sim de
Maria – uma vez que na leitura do livro do Génesis não havia a
confluência de dois sins – deve ser também a festa e o compromisso
no nosso sim. E assim como da confluência das duas atitudes de
Deus e de Maria, por ação do Espírito Santo, sucedeu a encarnação
salvadora de Jesus, do nosso sim brotará, por ação do mesmo
Espírito, a nossa colaboração na salvação do mundo.

Maria, a nova Eva que aceitou para a sua vida o plano salvador de
Deus, é o nosso melhor modelo para a vivencia deste tempo do
Advento e do Natal da encarnação de Jesus de 2022.
Quer dizer que a comunidade cristã no meio do mundo leva já estes
anos a colaborar na salvação do mundo, sentindo-se impulsionada a
trabalhar na construção do Reino de Deus e disposta a que se volte
encarnar em cada um de nós o amor salvador de Deus, em Jesus.
Nós não aspiramos ao privilégio singular de Maria, de ser santos
desde a conceção. Não nascemos santos, mas por graça de Deus, e
pela nossa liberdade e responsabilidade, vamos deixando construir a
nossa existência e as nossas relações pessoais e sociais na
santidade, isto é, segundo o soberano Espírito divino.
Explicitando melhor, podemos participar na luta contra o mal, que
continua aberta nos nossos dias, apesar da vitória radical de Cristo,
empenhando-nos na luta contra a corrupção e a violência, contra a
discriminação e a exploração, contra a injustiça em concreto. Este
será o modo ativo de colaborarmos na obra da salvação, retirando
os obstáculos do caminho que nos impedem de ver a Deus, a
criatura humana como nossa irmã, e a humanidade como uma
família, cuja a única casa é comum para habitar e cuidar.
Este lugar, a que desde 1987, chamamos de santuário é um sinal da
fé simples e humilde dos crentes, que encontram aqui a dimensão
basilar da sua existência, experimentando de maneira profunda a
proximidade de Deus e a ternura da Virgem Maria, numa
experiência de espiritualidade onde a ação do Espírito Santo e a vida
de graça se manifestam.  
O afluxo de peregrinos, a oração humilde e simples do povo de
Deus alternada às celebrações litúrgicas, a realização de graças que
numerosos crentes atestam receber e a beleza natural do lugar
permitem verificar como o santuário exprime uma oportunidade
para a evangelização do nosso tempo.

Este lugar, não obstante a crise de fé que afeta o mundo
contemporâneo, é percebido como espaço sagrado rumo ao qual se
pode vir como peregrinos para encontrar descanso, silêncio, consolo
e contemplação, na vida frenética dos nossos dias.
Pela sua natureza, o santuário é um lugar sagrado onde a
proclamação da Palavra de Deus, a celebração dos Sacramentos,
em particular da Reconciliação e da Eucaristia, e o testemunho da
caridade exprimem o compromisso da Igreja para com a
evangelização.
Através da espiritualidade própria do santuário, os peregrinos são
guiados com a “pedagogia de evangelização” rumo a um
compromisso responsável na sua formação cristã. No santuário
escancararam-se as portas aos jovens, aos estudantes, aos doentes,
às pessoas com deficiência, aos pobres, marginalizados e migrantes.
Por detrás de cada santuário há uma confraria como lugar de
tradição, trabalho e progresso. Trata-se de um modo de
participação laical na missão da Igreja pela vida espiritual mais
cuidada de cada confrade, pelo deixar-se evangelizar pelo ensino e
formação, por desenvolver uma atitude de oração pessoal e
comunitária, por participar ativamente na liturgia das suas
assembleias, por promover atos de misericórdia e caridade com os
confrades e demais membros da comunidade, por receber da
tradição a piedade e empenhar-se no progresso da vida cristã. A
confraria deve ser um meio de ajudar a santificação dos seus
membros pela força que uns dão aos outros.
Os fins de uma Confraria como a de Nossa Senhora da Conceição
devem ser: praticar em geral os atos de culto compatíveis com os
estatutos; promove o culto da Imaculada Conceição da Virgem
Santa Maria; sufragar a alma dos confrades falecidos; prover à
conservação e ornamento do santuário, sempre em diálogo com o
reitor próprio.
Nas orações desta celebração pedimos a Deus «a graça de
chegarmos purificados junto d’Ele» (oração coleta), de «sermos

livres de toda a culpa» (oração sobre as oblatas) e que «cure em
nós as feridas do pecado» (oração pós-comunhão).
É difícil dizer todos os dias o nosso sim ou ámen as estas orações,
sobretudo nos momentos mais difíceis de obscuros da nossa vida.
Por isso rezamos: «Senhor, Pai santo, que preservastes a Virgem
santa Maria (…) para que fosse digna Mãe do vosso Filho e nela
destes início à Igreja, esposa de Cristo, sem mancha nem ruga e a
destinastes, a fim de ser, para o vosso povo, advogada da graça e
exemplo de santidade».
Uma viagem pelos santuários diocesanos dos Açores, da Conceição
de Angra à Serreta na Terceira, passando pelos santuários
dedicados a Cristo em São Miguel, em São Jorge e no Pico, de 8 de
dezembro de um ano a 8 de setembro do ano seguinte, faz-nos
recordar que «somos um povo que caminha e juntos caminhando
podemos alcançar uma cidade onde há justiça, sem penas nem
tristezas, cidade onde há paz». Uma cidade cheia de graça, na alma
de cada peregrino.

Hélder, Administrador Diocesano de Angra

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