Job 7, 1-4, 6-7
Slm 146
1Cor 9, 16-19. 22-23
Neste V domingo do tempo comum, Jesus dirige-se a casa de Simão e André, lugar onde está com os seus discípulos, sinal da comunidade cristã reunida. A casa é, em Marcos, o lugar da estância de Jesus e dos discípulos, lugar da sua atuação. A sogra de Simão está com febre, na cama. Aparentemente não parece uma doença muito grave. Todos nós já passamos por uma gripe, ou outra enfermidade que nos provoca febre. Sabemos os seus efeitos: provoca cansaço, o corpo fica prostrado na cama, com arrepios de frio, dores de cabeça. Obriga a parar o ritmo quotidiano. Perdemos a vontade de trabalhar, pois estamos sem forças. Aguardamos ansiosamente a melhoria, para retomarmos a normalidade. Quando a situação é mais grave, ficamos parcial ou totalmente dependentes dos outros, familiares ou amigos.
Também na comunidade cristã acontece o mesmo. Alguns membros perdem a vontade, ficam prostrados. Esperam recuperar as forças e tornam-se dependentes. As febres do espírito tornam-se mais longas e difíceis de ultrapassar. Quantos irmãos prostrados, desanimados, sem forças!
Jesus aproxima-se, toma-a pela mão e levanta-a. Aqui o levantar é dar vida, é voltar à normalidade. Mas mais do que isso, é ressuscitar. O verbo usado é o mesmo da ressurreição. A cura não é só física. Representa a força vital do Senhor, como autor da vida. Foi para isso que Ele veio, para que tenham vida e vida em abundância!
A febre deixou-a e ela começa a servir. Torna-se ativa! Assim acontece a quem é levantado por Jesus. Quem se sente curado, não quer guardar a saúde para si mesmo. Não faz sentido continuar fechado ou acomodado. A melhor maneira de recuperar a normalidade é amar e servir. Só assim se vive em abundância e na gratidão.
No entanto, não foi só a sogra de Pedro a ser curada. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-lhe todos os doentes e possessos, e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. E Jesus curou-os a todos… Só ele cura essa multidão imensa, submersa na noite da dor e do desânimo. Não os discípulos. Assim, diante da porta das nossas Igrejas está uma multidão ingente enferma e possuída pelas forças do mal. O papel dos discípulos será o de abrir as portas para Jesus. E os sofrimentos são muitos, variados e profundos. Job, na primeira leitura, mostra-nos como se tornou objeto de um atroz sofrimento. Desabafa a sua dor, por uma oração de lágrimas e gritos. “agito-me até ao crepúsculo… os meus dias desvanecem”. Quão atual continuam esses gritos e todo esse sofrimento.
Jesus, no entanto, não é milagreiro, nem simplesmente um taumaturgo. A sua missão é revelar o Pai. Por isso, “retirou-se para um sítio ermo e aí começou a orar”. A oração é uma dimensão fundamental para que os milagres aconteçam, sobretudo para que o Senhor da vida nos dê a mão e nos levante das nossas fragilidades, doenças e sofrimentos. Aí compreendemos o sentido redentor do próprio sofrimento e da entrega de vida.
Continua o Evangelho.
Os discípulos vão à procura de Jesus: “todos te procuram”. No entanto, a resposta de Jesus é desconcertante. “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim”. Os planos de Jesus vão mais além. Não são os nossos. Ultrapassam os nossos projetos e horizontes. Quando pensamos que estamos a fazer bem, que já estamos organizados e o nosso ambiente se torna confortável, Jesus torna-se desconcertante: vamos para outros lugares. E temos de ir e seguir o Mestre. A missão não para. Há outros mais que precisam de nós. Então podemos dizer como São Paulo, na carta aos Coríntios: Anunciar o Evangelho é uma obrigação. Ai de Mim se não evangelizar! Assim continua a Boa Nova e o caminho de cada discípulo!