Mensagem de Páscoa. A paz esteja convosco.
«Veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja
convosco!» Os discípulos encheram-se de alegria por verem o
Senhor. Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Soprou
sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo.» (Jo 20, 20-21), e
com Ele a capacidade de desconstruir muros, dar e receber o perdão.
A festa que celebramos estes dias – a Páscoa do Ressuscitado, traz-
nos o Espírito Santo e com Ele o dom da paz. É de facto o que hoje
mais precisamos, como de pão para a boca. Na oração do dia 25 de
março, em que participamos no ato de consagração de cada um de
nós, da Igreja e do mundo, especialmente dos povos da Ucrânia e da
Rússia ao Imaculado Coração de Maria, com o Papa Francisco
reconhecíamos que:
«Perdemos o caminho da paz. Esquecemos a lição das tragédias do
século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras
mundiais. Estamos a atraiçoar os sonhos de paz dos povos e as
esperanças dos jovens. Adoecemos de ganância, fechamo-nos em
interesses nacionalistas, deixamo-nos ressequir pela indiferença e
paralisar pelo egoísmo. Preferimos ignorar Deus, conviver com as
nossas falsidades, alimentar a agressividade, suprimir vidas e
acumular armas, esquecendo-nos que somos guardiões do nosso
próximo e da própria casa comum. Dilaceramos com a guerra o
jardim da Terra, ferimos com o pecado o coração do nosso Pai, que
nos quer irmãos e irmãs. Tornamo-nos indiferentes a todos e a
tudo, exceto a nós mesmos. E, com vergonha, dizemos: perdoai-nos,
Senhor!
Cristo morreu e ressuscitou de uma vez para sempre e para todos,
mas a força da Ressurreição, esta passagem da escravidão do mal à
liberdade do bem, deve realizar-se em todos os tempos, nos espaços
concretos da nossa existência, na vida de cada dia. É dom, mas não
dispensa a adesão da liberdade e da consciência de cada um de nós.
O que aconteceu a Cristo, que tem que ver connosco? «Pelo Batismo
fostes sepultados com Cristo e também ressuscitastes com Ele,
devido à fé que tivestes na força de Deus, que O ressuscitou dos
mortos. Uma vez que ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do
Alto, onde Cristo Se encontra sentado à direita de Deus» (Cl 2, 12).
Tudo o que somos e fazemos é visto a esta luz. Os trabalhos sinodais
preparatórios, que decorrem sobre comunhão, participação e
missão, consistem em «fazer germinar sonhos, suscitar profecias e
visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, enfaixar
feridas, entrelaçar relações, ressuscitar uma aurora de esperança,
aprender uns dos outros e criar um imaginário positivo que
ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos».
Para os jorgenses, esta Páscoa será de facto única, pela incerteza e
pela esperança, pelo medo e pela coragem, pelo dragão e pela
Mulher do Apocalipse, pelo fogo e pelas cinzas, pela vigilância e pela
atividade, pelo cuidado e pelo trato, pela fuga e pelo acolhimento,
pelas dores da maternidade, como se a ilha estivesse para dar à luz,
pela comunhão, participação e missão, pelo voluntariado e pelo
profissionalismo, pela espera e pela prontidão. Os sinos da ilha de
São Jorge só repicarão pela iminência do vulcão, enquanto nas
outras ilhas repicarão porque o sepulcro rebentou e o Senhor
ressuscitou. Faz mais sentido rezar em São Jorge este poema como
oração: «Se me envolve a noite escura e caminho sobre abismos de
amargura, nada temo porque a Luz está comigo. Se me colhe a
tempestade e Jesus vai a dormir na minha barca, nada temo
porque a Paz está comigo. Se me perco no deserto e de sede me
consumo e desfaleço, nada temo porque a Fonte está comigo».
Acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo! Deixemo-nos renovar
pela misericórdia de Deus, deixemos que a força do seu amor
transforme a nossa vida, tornando-nos instrumentos da
misericórdia, através dos quais Deus possa irrigar a terra, guardar a
criação inteira e fazer florir a justiça e a paz.
A Jesus ressuscitado que transforma a morte em vida, peçamos para
mudar o ódio em amor, a vingança em perdão, a guerra em paz.
Angra, 31 de março de 2022
Hélder, Administrador Diocesano de Angra