Se hoje não fosse o 2º Domingo do Tempo Comum, a Igreja estaria a celebrar a Memória Litúrgica de Santo Antão.
Antão nasceu em Coma, no Alto Egipto, por volta do ano 250, filho de uma família abastada. Ouvindo a palavra do Evangelho: «Se queres ser perfeito vai, vende o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu», entendeu aquelas palavras como dirigidas a si e começou a distribuir todos os seus bens pelos pobres. Em seguida instalou-se num lugar próximo da sua aldeia, onde levou uma vida solitária. Em seguida fundou dois eremitérios, que serviram ambos de modelo para muitos outros, Por isso, é considerado o pai e modelo de todos os monges e o primeiro anacoreta. Por fim, retirou-se para o deserto da Tebaida, onde faleceu, em 17 de Janeiro do ano 356. Tinha cento e cinco anos.
A «Vida de Santo Antão», escrita por Santo Atanásio, bispo de Alexandria, apenas quatro anos após a morte de Santo Antão, desempenhou um papel capital na propagação do monaquismo. Foram, com efeito, numerosos os que tanto no Ocidente, como no Oriente, quiseram abraçar uma existência semelhante à de Antão. Com o fim das perseguições, a vida ascética substituiu o testemunho pelo sangue. Partia-se para o deserto para combater o demónio, adquirir os dons do Espírito Santo e encontrar Deus face a face. Esse movimento foi criando, no deserto, colónias de eremitas que continuam hoje a ser o coração silencioso da Igreja e perpetuam a herança profética e carismática de Santo Antão.
A gravura que mostro abaixo é o célebre «tríptico das tentações de Santo Antão», pintado por Bosch, no século XVI e que se encontra no Museu de Arte Antiga, em Lisboa. O artista retratou neste quadro, os quatro elementos do Universo (céu, terra, água e fogo) tornando-os cenário de personagens horrendas, que representavam os pecados e temores do homem medieval e dos quais só poderiam libertar-se através de uma vida ascética, de luta contra o demónio, de oração e contemplação, como a de Santo Antão.
Padre Ângelo Valadão