Festa de Mãe de Deus – Jornada Mundial da Paz – Dia de Ano Novo

Começamos hoje um novo ano guiados pela mão da esperança
cristã; iniciamo-lo invocando a bênção divina e implorando, por
intercessão de Maria, Mãe de Deus, o dom da paz.
Na primeira leitura, ouvimos a invocação: “Que o Senhor te conceda
a paz!». Sem dúvida que todos desejamos viver em paz, mas a paz
verdadeira que é anunciada pelos anjos na noite de Natal, não é
simples conquista do homem ou fruto de acordos políticos; é antes
de tudo dom divino que se deve implorar constantemente e, ao
mesmo tempo, compromisso que se deve levar em frente com
paciência, permanecendo sempre dóceis aos mandamentos e bem-
aventuranças evangélicas.
Este ano, a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz
parte do lema «Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos,
recomecemos a partir de Covid – 19 para traçar sendas de paz».
«A maior lição que Covid-19 nos deixa em herança é a consciência
de que todos precisamos uns dos outros, que o nosso maior
tesouro, ainda que o mais frágil, é a fraternidade humana, fundada
na filiação divina comum, e que ninguém pode salvar-se sozinho».
«A pandemia permitiu-nos um benéfico regresso à humildade; uma
redução de certas pretensões consumistas; um renovado sentido de
solidariedade que nos encoraja a sair do nosso egoísmo; bem como
um empenho de muitas pessoas que se sacrificaram para que todos
conseguissem superar do melhor modo possível o drama da
emergência». Foi também assim há 42 anos nas ilhas Terceira, São
Jorge e Graciosa com o terramoto de 1 de Janeiro. Deveria também
ser assim na prosperidade.
«Entretanto, quando já ousávamos esperar que estivesse superado
o pior da noite da pandemia de Covid-19, eis que se abateu sobre a
humanidade uma nova e terrível desgraça. Assistimos ao

aparecimento doutro flagelo – uma nova guerra – comparável em
parte à Covid-19, mas pilotado por opções humanas culpáveis».
«Esta guerra, juntamente com todos os outros conflitos espalhados
pelo globo, representa uma derrota não apenas para as partes
diretamente envolvidas, mas também para a humanidade inteira. E
enquanto para a Covid-19 se encontrou uma vacina, para a guerra
ainda não se encontraram soluções adequadas. Com certeza, o vírus
da guerra é mais difícil de derrotar do que aqueles que atingem o
organismo humano, porque o primeiro não provem de fora, mas do
íntimo do coração humano, corrompido pelo pecado».
«Enfim, o que se nos pede para fazer? Deixarmos mudar o coração
pela emergência que estivemos a viver, ou seja, permitir que,
através deste momento histórico, Deus transforme os nossos
critérios habituais de interpretação do mundo e da realidade».
O nosso pensamento dirige-se agora para Nossa Senhora, que hoje
invocamos como Mãe de Deus. Além da festa ser mariana, conserva
um conteúdo cristológico, porque antes de dizer respeito à Mãe
refere-se precisamente ao Filho, Jesus, verdadeiro Deus e
verdadeiro Homem. O evangelista Lucas repete várias vezes que
Maria meditava silenciosa sobre estes acontecimentos
extraordinários, nos quais Deus a tinha envolvido, isto é, «Maria
conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração».
Este mistério, a encarnação do Verbo e a maternidade divina de
Maria é grande, e certamente não é de fácil compreensão
unicamente com à inteligência humana. Mas na escola de Maria
podemos captar com o coração aquilo que os olhos e a mente não
conseguem compreender sozinhos, nem podem conter.
De facto, trata-se de um dom tão grande, que só na fé nos é dado
acolher, mesmo sem compreender tudo. E, precisamente, neste
caminho da fé, Maria vem ao nosso encontro, é para nós, amparo e
guia. Ela é Mãe porque gerou na carne Jesus; é “mater” porque nos
deu a matéria; é-o porque aderiu totalmente à vontade do Pai.

«De valor algum teria sido para ela a própria maternidade divina, se
não tivesse levado Cristo no coração, com um destino mais
afortunado de quando O concebeu na carne» diz Santo Agostinho. E
no seu coração continuou a conservar, a ponderar os
acontecimentosseguintes, dos quais será testemunha e protagonista
até à morte na cruz e à ressurreição do seu Filho Jesus.
Neste dia não podemos esquecer o agora defunto Bento XVI, o
papa emérito, que o Senhor ontem chamou a Si, terminando assim
95 anos do seu percurso na história humana, da Igreja e da
salvação, e 8 anos de pontificado, como sucessor de São Pedro. De
entre as muitas palavras que nos dirigiu, recordo as últimas que
deixou no discurso de despedida em Portugal a 14 de Maio de 2010:
«Para todos os portugueses, fiéis católicos ou não, aos homens e
mulheres que aqui vivem, mesmo sem aqui terem nascido, vai a
minha saudação na hora da despedida. Não cesse entre vós de
crescer a concórdia, essencial para uma sólida coesão, caminho
necessário para enfrentar com responsabilidade comum os desafios
com que vos debateis. Continue esta gloriosa Nação a manifestar a
grandeza de alma, profundo sentido de Deus, abertura solidária,
pautada por princípios e valores bebidos no humanismo cristão».
«O meu desejo é que a minha visita se torne incentivo para um
renovado impulso espiritual e apostólico. Que o Evangelho seja
acolhido na sua integridade e testemunhado com paixão por todos
os discípulos de Cristo, a fim de que se revele como fermento de
autêntica renovação de toda a sociedade!»
«Desça sobre Portugal e todos os seus filhos e filhas a minha
Bênção Apostólica, portadora de esperança, de paz e de coragem,
que imploro de Deus pela intercessão de Nossa Senhora de Fátima,
a quem manifestais tanta confiança e firme amor. Continuemos a
caminhar na esperança! Adeus!».

Hélder, Administrador Diocesano de Angra

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