Pentecostes. Ponta Delgada.
Saúdo o Senhor Representante do Governo Regional dos Açores, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, o Magnifico Reitor da Universidade dos Açores, o Senhor Presidente do Conselho Geral e Presidentes dos demais órgãos de governo, consulta e coordenação da Universidade, Senhoras e Senhores Presidentes das Faculdades, a Presidente da Associação Académica, Senhores Professores, Alunos e Familiares e sobretudo os 270 finalistas dos cursos de 2020, 2021 e 2022 de Economia, Estudos Euro-Atlânticos, Estudos Portugueses e Ingleses, Gestão, Licenciatura em Informática, Psicologia, Serviço Social, Sociologia, História, Turismo, Relações Públicas e Comunicação, Educação Básica, Proteção Civil e de Biologia.
Como não evocar os vossos colegas mais velhos que um dia, inspirados, cantaram a universidade e a cidade que nos acolhe? «Nestas portas entrei e à Matriz fui rezar / Na marginal passeei / À Mãe de Deus fui cantar/ Longe de ti não sei viver / minha pacata cidade / Onde aprendi a crescer / Também a sentir saudades / Dos amores que eu vivi / Nesta vida amargurada / Nenhum se compara a ti / Ó doce Ponta Delgada».
Estes 270 alunos terminam hoje um ciclo importante da sua vida. Tal como Jesus, rezamos e pedimos a bênção nos momentos mais significativos da nossa biografia pessoal. O acontecimento é ocasião oportuna para dar graças a Deus pelo bom êxito do trabalho realizado, quer pelos professores quer pelos alunos, com o apoio dos pais, demais familiares e benfeitores, e simultaneamente implorar a bênção divina para os finalistas que vão assumir novas responsabilidades nas suas atividades profissionais, a partir de agora. A bênção tem um sentido ascendente: é nós dizermos bem, bendizer agradecer, louvar; e um sentido descendente que é reconhecermo-nos abençoados. A maior bênção de Deus é dada pelo Natal em Jesus Cristo e pela Páscoa pelo dom do Espírito Santo; é porque Deus desce em Cristo e no Espírito, que podemos ser abençoados pela Palavra e pela água abençoada do nosso batismo. A bênção é para as pessoas e para aquilo que as constituem ou formam, como sejam um sabor e saber, representados nestas pastas.
A especialização é necessária por aprofundar o conhecimento, mas não podemos exagerar nas especialidades sem ver o todo do humano. Pensemos no nosso corpo se nos dissessem que o pé nada tem que ver com a perna, ou dente com a mão. Como diria Abel Salazar, “o médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe.” Daí a riqueza destes 14 cursos presentes no âmbito alargado das ciências humanas, porque na verdade elas só fazem sentido se estiverem conectadas num sujeito, sendo o destinatário o mesmo, a pessoa humana, a família humana, que vive numa sociedade global, numa casa comum, debaixo do mesmo céu, rodeados do mesmo mar azul.
O grande anúncio para todos os jovens que a Igreja faz no domingo de Páscoa, domingo ampliado em sete semanas, a que chamamos etimologicamente de Pentecostes, é que temos um Deus que é Amor, e que se traduz por Deus ama-te; não sabendo como poderia chegar do Céu até nós, Cristo encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e que pelo mesmo Espírito é Ressuscitado, para nos libertar de toda a escravidão e da morte, que se pode traduzir por Cristo salva-te. Como não se trata de uma história de salvação esgotada, anunciamos que o Espírito Santo, dado pelo Pai e pelo Filho, é o Senhor que dá a vida, que se pode traduzir por «o Espírito dá-te vida, o ar, o alento e a graça. O Espírito que hoje desce sobre os Apóstolos é o que desce sobre nós, que permite sermos batizados, confirmados, perdoados, casados, ordenados, ungidos e comungantes no sacramento santo da Eucaristia, que a cada domingo celebramos.
«Nas três verdades (Deus ama-te, Cristo é o teu salvador, Ele vive), aparece Deus Pai e aparece Jesus. Mas, onde estão o Pai e Jesus Cristo, também está o Espírito Santo. É Ele que prepara e abre os corações para receberem este anúncio, é Ele que mantém viva esta experiência de salvação, é Ele que te ajudará a crescer nesta alegria se O deixares agir». (CV, 130).
O Espírito Santo, o dom de Deus, derrama-se hoje em línguas, que nos permitem entendermo-nos uns aos outros na diversidade, e ainda em sete dons tal como o dom da ciência, do entendimento ou da inteligência, da sabedoria, do conselho, da piedade, da fortaleza e do respeito ou temor de Deus. Reparemos que não só dons só de cabeça, mas de coração e de corpo inteiro. Não há dons egoístas, mas de relação, em nós, para os outros, em ordem ao bem comum. Assim deve ser connosco em casa, com os amigos, na vida académica ou profissional. A diferença dos nossos dons e competências nunca será causa de guerra e de destruição dos outros, mas de riqueza em ordem ao bem comum, de que somos os primeiros beneficiários, pois o Espírito Santo é único e o mesmo.
O Papa Francisco numa exortação apostólica dirigida aos jovens diz-vos: «Invoca em cada dia o Espírito Santo, para que renove em ti constantemente a experiência do grande anúncio. Porque não? Tu não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida, pode iluminá-la e dar-lhe um rumo melhor. Não te mutila, não te tira nada, antes ajuda-te a encontrar da melhor maneira aquilo que precisas. Precisas de amor? Não o encontrarás na devassidão, usando os outros, possuindo ou dominando os outros; n’Ele, o encontrarás duma forma que te fará verdadeiramente feliz. Buscas intensidade? Não a viverás acumulando objetos, gastando dinheiro, correndo desesperadamente atrás das coisas deste mundo; chegará duma maneira muito mais bela e satisfatória, se te deixares guiar pelo Espírito Santo» (CV, 131).
A melhor herança que um filho pode receber dos seus pais e professores é a educação e a formação. Trata-se de algo imaterial e espiritual, ainda que laborioso e dispendioso. Neste sentido voltemos ao Papa Francisco quando se dirige aos jovens: «Não podemos separar a formação espiritual da formação cultural. Direito à cultura significa tutelar a sabedoria, ou seja, um saber humano e humanizador. Vivemos condicionados por modelos de vida banais e efémeros, que estimulam a perseguir o sucesso a baixo preço, desacreditando o sacrifício, inculcando a ideia de que o estudo não serve, se não leva imediatamente a algo de concreto. Mas não! O estudo serve para se questionar, para não se deixar anestesiar pela banalidade, para procurar um sentido na vida.» (CV, 223). E amanhã?
«Nem sempre um jovem tem a possibilidade de decidir a que vai dedicar os seus esforços, em que tarefas vai empregar as suas energias e a sua capacidade de inovação. Aos próprios desejos e mesmo às próprias capacidades e discernimento que a pessoa pode maturar, sobrepõem-se os duros limites da realidade» (CV, 272).
Estes duros limites não vão desaparecer com o progresso científico que até agora críamos linear, crescente e ilimitado. Eles aí estão com forte impacto sob a forma de doença, de guerra ou de pobreza, que chamados a combater. É que nem as novas profissões que se avizinham nesta década com o metaverso são garantia de que não iremos sofrer os impactos de uma «vida tecnológica» que tenta replicar a realidade através um espaço coletivo e virtual compartilhado, constituído pela soma da “realidade virtual” da “realidade aumentada” e da “Internet”.
«É verdade que não podes viver sem trabalhar e que, às vezes, tens de aceitar o que encontras, mas nunca renuncies aos teus sonhos, nunca enterres definitivamente uma vocação, nunca te dês por vencido. Continua sempre a procurar, ao menos, modalidades parciais ou imperfeitas de viver aquilo que, no teu discernimento, reconheces como uma verdadeira vocação» (CV, 272).
Vitorino Nemésio, a propósito deste domingo, que dá razão ao dia de amanhã, dia da Região Autónoma dos Açores, deixou-nos um Hino ao Espírito Santo que reza assim: «Paráclito no terno / Nem terceiro nem primo / Nem segundo no eterno / Mas triádico ao cimo. / Vem, Espírito Santo / Por nome amor e asa / Como a áscua de espanto / Acende a mente e a casa. / Os corações repletos / Serão de Ti, que amplias / Como os grãos são completos / Já nas vagens esguias / Vem na consolação, / Indene a gáudio e a pranto, / Tu, Padre, e à dextra mão, / O Filho, Espírito Santo».
Hélder, Administrador Diocesano de Angra