Diocese de Angra.

Estou vivamente agradecido ao Senhor por me ser dada a oportunidade de presidir, na qualidade de Representante do Santo Padre, a esta solene celebração da Missa Crismal e de fazê-lo nesta Igreja Matriz de Ponta Delgada (nesta Igreja Matriz de Horta ou nesta Catedral de Angra), com esta porção importante e significativa da Comunidade diocesana de Angra que espera pela nomeação do seu novo Bispo. Aceitei com prazer o convite que me dirigiu o Administrador Diocesano, porque desta maneira ofereço o meu ministério episcopal a uma Diocese que dele necessita; além disso tenho a oportunidade de cumprir um dos aspetos essenciais da missão de um Núncio Apostólico: de facto a visita a uma Diocese é uma maneira de expressar concretamente o espírito apostólico do Papa; é também ocasião para encontrar e escutar as pessoas, conhecendo e partilhando as suas alegrias e as suas angústias, as suas histórias e os seus projetos, os seus êxitos e os seus desafios. É também uma oportunidade para evidenciar os ensinamentos do Papa e, de maneira especial, reavivar uma atitude de comunhão eclesial afetiva e efetiva com Ele, sinal e fundamento da unidade de toda a Igreja católica; além disso é um momento de graça no qual reavivamos a comunhão com toda a Igreja, na sua dimensão nacional, continental e mundial.

Com um renovado espírito de comunhão eclesial estamos, portanto, a celebrar a liturgia da Missa Crismal, que no decurso do ano litúrgico é um momento único no qual os presbíteros de cada Diocese expressam, mediante a renovação das promessas sacerdotais, o seu vínculo de unidade com o Bispo, sinal e fundamento da unidade da Igreja local. É uma unidade que nasce da fé em Jesus, que é a razão e o fundamento da nossa unidade. Estamos unidos, entre nós, porque cada um reconhece que Jesus é o Filho de Deus, o Consagrado pelo Espírito Santo e, portanto, o Cristo, o Ungido, o Messias, o Sumo e Eterno Sacerdote. Ele é o Salvador único e universal, graças ao qual todos nós fomos batizados, libertados do pecado original e incorporados no Seu Corpo Místico que é a Igreja. Portanto graças a Ele somos membros daquele Povo de Deus, cujos membros são chamados, como afirma o Profeta Isaías, “Sacerdotes do Senhor” e “Ministros de Deus”. Ele é o nosso ponto de referência fundamental, o centro da nossa vida, o nosso Salvador, o nosso Senhor, o nosso Alfa e Omega. É para Ele que todos nós, batizados, devemos olhar, é Nele que devemos confiar, é a Ele que devemos seguir e imitar.

Sabemos que Deus, para realizar o Seu grande plano de salvação, quis que dentro do Povo de Deus alguns fossem chamados, para o bem de todos, a viver uma especial relação com Jesus, a participar de maneira especial na Sua tríplice missão de Sacerdote, Profeta e Rei.  São os Bispos, os Presbíteros e os Diáconos, escolhidos por Deus para ser consagrados e chamados a uma vida de serviço, seguindo e imitando Jesus.

Queridos Presbíteros e Diáconos, esta é a nossa identidade; este é o imenso dom que – não obstante as nossas limitações e sem méritos especiais – nos foi concedido: fomos escolhidos, consagrados, enviados para colaborar com generosidade, fidelidade e zelo na difusão do Reino de Deus. Grande é este privilégio: receber de maneira especial os dons do Espírito Santo; grande é a missão que nos foi confiada: servir o Corpo Místico de Cristo para a salvação eterna das almas; grande é a responsabilidade: “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lc 12,48).

Não há dúvida que quanto mais tomamos consciência da nossa identidade de Ministros e Pastores da Igreja – deste privilégio, desta missão e desta responsabilidade – tanto mais sentimos o dever de conformar a nossa vida a esta especial vocação:

= Em primeiro lugar, mediante a vida de oração temos de manter-nos unidos a Deus e alimentar aquele vínculo de amor que está na origem da nossa vocação e que permite levar por diante o que o Senhor em nós começou. Quanto é importante a vida de oração pessoal, manifestada nos momentos de silêncio, meditação, adoração eucarística e reza do santo terço. Fundamental são também o espírito de fé e a devida diligência com os quais são administrados ao Povo Santo de Deus os sacramentos, momentos maravilhosos de graça nos quais Deus se encontra com as pessoas que nos foram confiadas.

= Em segundo lugar, mediante um continuo caminho de conversão, purificação e santificação, temos que melhorar sempre mais a nossa pessoa para fazer dela um instrumento digno, adequado e eficaz nas mãos de Deus. É necessário ter a coragem e a generosidade de examinar a própria vida de pastores para ver se somos como nos pede a Igreja e, de maneira especial, o Papa Francisco: empáticos e misericordiosos para dar respostas adequadas às necessidades materiais e espirituais das pessoas; generosos em pôr à disposição dos outros o tempo, as capacidades, e o próprios bens; disponíveis para o diálogo, a coordenação, a transparência, o discernimento, num estilo sinodal; castos e sóbrios no estilo de vida a fim de ser-mos dignos e aptos para trabalhar, de maneira eficaz e credível, em favor de algo tão precioso como é o bem das almas das pessoas que nos foram confiadas.

Os fiéis, como os que estão presente neste templo ou que nos acompanham mediante os meios de comunicação, tem a responsabilidade de rezar pelos seus pastores a fim que estejam sempre à altura da grande missão que Deus lhes confiou. Além disso é necessário ajudá-los com uma colaboração generosa e criativa, perseverante e humilde, responsável e corajosa. Trata-se de uma participação de todos os fiéis na missão da Igreja, que se funda no próprio batismo, pelo qual cada cristão participa na missão profética, sacerdotal e real de Jesus Cristo.

Todos, pastores e fiéis, somos chamados a colaborar na realização do grande plano de salvação segundo o qual Deus Pai, Criador e Senhor do Universo, quer que todos se salvem. É a grande obra da salvação: a Igreja, cada Diocese, também esta Comunidade diocesana de Angra, devem sentir-se responsáveis na expansão do Reino de Deus em todos os Continentes. Trata-se não de uma conquista territorial, mas de uma expansão espiritual: há que conquistar o coração de cada pessoa; há que ajudar as pessoas a encontrar-se com Deus e a receber d’Ele todas as graças necessárias para merecer a vida eterna.

É uma verdadeira conquista de libertação. De fato na página do Evangelho que escutámos, Jesus leu a passagem do profeta Isaías que descreve a missão do Messias com estas palavras: “(…) O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar a boa nova aos pobres. Ele me enviou para proclamar a liberdade aos presos a recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”. Depois de dois mil anos, na esperança do regresso glorioso de Cristo, há no mundo inumeráveis pessoas que necessitam de ser libertadas e salvas. É um sem número de pessoas que naufragam nas águas gélidas e mortíferas do pecado, vítimas dos vícios, dos enganos do diabo que se serve da ignorância, dos erros e das mentiras para afastar as pessoas de Deus. A salvação de tantas pessoas depende de nós, da nossa santidade de vida, do nosso zelo pastoral e da nossa coerência. Todo nós, Pastores da Igreja, havemos de dar contas a Deus se fomos zelosos, corajosos, misericordiosos. Entendemos por isso quanto é importante promover uma eficaz e criativa pastoral vocacional, que se realiza mediante a oração, a generosidade das famílias, o entusiasmo e o exemplo dos sacerdotes. Que a celebração desta Missa Crismal seja uma ocasião para entender o que deve ser feito para que nesta terra, que deu tantos sacerdotes à Igreja em Portugal, possa florescer quanto antes uma nova primavera de vocações à vida sacerdotal e religiosa.

Recomendamos estas reflexões à intercessão e mediação de Nossa Senhora de Fátima, para que nos ajude a entender e a fazer tudo o que é necessário para colaborar eficazmente e generosamente na salvação das almas pelas quais o seu Filho Jesus derramou o seu preciosíssimo sangue.

Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo

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